Por Vinícius Prado*
Hoje, 29 de julho de 2014, comemora-se os 366 anos de emancipação política de Paranaguá, a cidade mais antiga do estado do Paraná, a décima cidade mais populosa com aproximadamente 150.000 habitantes, e o quinto PIB do estado ultrapassando os 8 bilhões de reais.
Paranaguá é conhecida internacionalmente, seja belas belezas naturais, como a Ilha do Mel, os mangues, e toda a biodiversidade que os cercam, seja pela sua arquitetura histórica que datam o Brasil colônia, ou ainda pela sua importância econômica devido ao Porto D. Pedro II.
A cultura parnanguara também é marca que ultrapassa fronteiras, terra de fandango e barreado, berço de inúmeros artistas que tomaram proporções estaduais, nacionais e mundiais, como Brasílio Itiberê, que tão bem acolheu Heitor Villa Lobos durante parte de sua vida, e que ainda é expoente da musica contemporânea, que vai do rock do Illbred a MPB de Guilherme Costa e Leonardo Damião. E não podemos deixar de fazer menção ao carnaval parnanguara, que começa uma semana antes do resto do mundo com o Banho a Fantasia, passando pelas tradicionais e belas escolas de samba, até o popular e inigualável bloco dos sujos. Paranaguá é terra de arte, e poderia discorrer páginas sobre literatura, teatro, dança, artes plásticas, e demais manifestações artísticas da terra de Júlia da Costa.
Berço da civilização paranaense, como a elite local e os mais ufanistas gostam de proclamar, Paranaguá teve e tem um importante influência na política paranaense, algumas das principais oligarquias começaram a se formar em terras “bagrinhas”. Desde o império, temos a influência parnanguara na política paranaense, como o conhecido Barão e Visconde de Nácar, foi Deputado Geral, Deputado Provincial chegando a vice-presidência da província. Para aqueles que gostam de curiosidades e para aqueles que acreditam que no Paraná não existem oligarquias, o Visconde de Nácar é antepassado de Fernando Ribas Carli filho, o deputado que atropelou dois jovens a 190 km/h, que é filho de ex-prefeito de Guarapuava e irmão de deputado também cassado, tá ai uma oligarquia “quatrocentona” para ninguém reclamar.
José Pereira dos Santos Andrade, mais conhecido como Santos Andrade, político parnanguara que dá nome a praça do prédio histórico da UFPR, também é outro nome constantemente evocado pela elite parnanguara como figura celebre. Comerciante, dono de fábricas de erva-mate, foi promotor em Antonina, elegeu-se deputado algumas vezes, foi senador até ser eleito presidente da província do Paraná. Na capital federal foi um dos pilares de apoio da ditadura de Floriano Peixoto, chegando a chefiar pessoalmente o 7º Batalhão da Guarda Nacional, que rumou de Itararé ao Paraná, para derrotar os federalistas comandados por Gumercindo Saraiva.Com certeza a principal oligarquia nascida em solo litorâneo é a Rocha, pai e filho sendo governadores do estado não é exclusividade da família Richa, Caetano Munhoz da Rocha, nos anos 20, e seu filho Bento Munhoz da Rocha Neto, nos anos 50, também exerceram a função de chefe político do estado. Caetano após ser deputado e prefeito de Paranaguá, se elege primeiramente vice-governador com Afonso Camargo no governo, se torna sucessor de Afonso Camargo sendo eleito como candidato único, e por fim arquiteta um golpe político que altera a constituição estadual para poder se candidatar a reeleição, o que consegue devido a grande influência política que adquiria naquele momento. O filho formado em sociologia, publicou alguns ensaios, mas seu destaque se deu na política, eleito deputado e governador, tentou ser candidato a vice-presidente, mas foi desarticulado e acabou negociando um ministério no governo Café Filho. Esta é sem dúvida, a oligarquia mais presente no dia-a-dia parnanguara, o pai dá nome a Instituto Estadual de Educação, um dos colégios mais tradicionais da cidade, o filho a uma das principais avenidas da cidade, e a família Rocha ainda é dona de um dos maiores operadores portuários do Brasil.
Paranaguá continua, ainda no século XXI fornecendo nomes para a política estadual , tivemos deputados nas últimas legislaturas, porém todos frutos de novas oligárquicas que se formam, sendo assim, como os políticos locais desde o império, representantes dos interesses da elite, e não dos trabalhadores e trabalhadoras. E neste ano eleitoral vamos novamente ver vários “inhos” e “filhos” tentando convencer os trabalhadores de Paranaguá que podem ser seus representantes.
Durante muito tempo fomos ensinados a admirar figuras como estas, como sendo os “grandes parnanguaras”, exemplos de sucesso de nossa cidade, como se fossem representantes dos interesses de todos os parnanguaras, e que em nossa cidade oligarquias não existem. Da mesma maneira que pouco nos ensinam sobre a história do tráfico negreiro paranaense, que teve em Paranaguá sua porta de entrada, onde uma família traficante de escravos era tão poderosa que chegou a ser dona de uma ilha, que até hoje tem o nome da família Valadares.
Assim os mitos tão difundidos no Paraná e no Brasil, de que somos um estado branco, sem oligarquias e “europeu”, assim como a povoação do Paraná, também tiveram em Paranaguá um polo de origem e difusão.
O povo parnanguara é sem dúvida a principal riqueza desta terra, acolhedor, hospitaleiro, famoso pelo “dom” de dar apelidos a qualquer um que se aproxime, e trabalhador, mesmo com todos os estigmas que a elite local e estadual tenta infligir sobre o povo parnanguara como o de que “caiçara não gosta de trabalhar” entre outros, devemos ressaltar que sobre o suor do povo caiçara que se edificou a quinta economia do estado, o maior porto graneleiro da América Latina, toda a arquitetura histórica mundialmente conhecida. E é com o suor deste povo anônimo que até o hoje toda esta estrutura funciona, neste dia de comemorações, nossa reverencia e saudação não deve ser feita em memória da terra de barões e viscondes, que dão nomes de ruas em cidades do estado todo, e sim a trabalhadores e trabalhadoras de toda a cidade, que todos os dias se levantam para continuar a escrever a história desta bela cidade.
*Vinícius Prado é historiador e candidato a deputado federal pelo PSOL.
É isso aí Vinícius, chega dos mesmos, oligarquias que de nada servem ao povo desta cidade que sofre com este regresso político. Observando nossa receita, deveríamos ter ótima qualidade de vida comparada a Santos, o que não ocorre por falta de vontade política.