Uma reportagem da Gazeta do Povo na última quinta-feira, 31 de julho, evidencia o modelo econômico dominante no Paraná, a partir dos dados sobre as exportações do Paraná para a China. Segundo levantamento feito pelo repórter Fernando Jasper, a China tem se tornado o principal “parceiro” comercial do Paraná: entre 2000 e 2014, as exportações para os chineses subiram de 3% para quase 30% das exportações do estado.
Mas o que mais chama atenção não é a quantidade de exportações, mas o que exportamos. O principal produto exportado é a “soja em grão”, que representa 86% daquilo que é exportado para a China. Além da soja, o Paraná também exporta óleo de soja, pedaços de frango, papéis e couro bovino. Todos esses produtos exigem uma tecnologia de nível “baixo” ou são “não-industriais”.
Por outro lado, o Paraná importa produtos manufaturados, que exigem tecnologia de nível “médio” ou “alto”. O estado envia couro in natura e recebe, de volta, sapatos, bolsas e outros acessórios.
Ao ler a reportagem me veio a lembrança dos tempos de escola, quando aprendemos com as aulas de História que a economia brasileira era baseada na exportação de produtos primários e na importação de produtos industriais, o que fazia com que sempre tivéssemos em “dívida”. Infelizmente, parece que nada mudou de lá pra cá.
Temos defendido que é preciso mudar a matriz econômica do estado do Paraná: precisamos deixar de ser o “Paraná celeiro” para nos tornarmos o “Paraná alimentador”. Isso significa que é preciso mudar o modelo de ocupação de solo, que hoje é baseado em grandes fazendas (os latifúndios) produtores de soja ou outras formas de monocultura. Esse modelo é mais poluidor (pois se utiliza de muitos agrotóxicos e sementes transgênicas) e utiliza menos força de trabalho, o que acaba por gerar uma grande migração para as principais cidades do estado, aumentando os problemas urbanos. É o velho modelo do MEL – Monocultura, Exportação e Latifúndio – assim como nos ensinaram os professores de História do ensino fundamental.
Além disso, o modelo agroexportador precisa de cada vez mais terras, visto que a monocultura esgota, rapidamente, a qualidade das terras. Isso leva os latifundiários a avançarem em cima de terras de indígenas, de quilombolas e outros povos tradicionais.
Somos parte daqueles que defendem a reforma agrária (de forma popular e agroecológica) como forma de ocupar o solo. As pequenas experiências que temos nesta área mostram que essa é uma boa solução. Como regra, a agricultura familiar se utiliza de mais força de trabalho e fortalece o comércio nas pequenas cidades, utiliza formas ecológicas de produção (a agroecologia) e tem foco na produção de alimentos para consumo e não para exportação.
É dever de um governo comprometido com os interesses da maioria da população incentivar e apoiar projetos de reforma agrária popular e agroecológica. A reforma agrária só faz sentido se for pra romper com a monocultura e a agricultura com uso intenso de agrotóxicos. No Paraná, temos condição de utilizar as chamadas “terras devolutas” para fins de reforma agrária, além de garantir a estrutura necessária (escola, atendimento em saúde e boas estradas) para os assentamentos feitos a partir do governo federal.
Os críticos da reforma agrária e da agricultura familiar argumentam que esta não é competitiva. Mas cabe uma pergunta: competitividade para que? Para exportar soja para alimentar o gado chinês? Certamente não é dessa competição que queremos fazer parte. Primeiramente, precisamos produzir arroz e feijão para consumo da população brasileira, que hoje ainda carece de segurança e soberania alimentar.
A reforma agrária é uma das formas de mudar o modelo econômico hegemônico no Paraná. Além dela, precisamos investir em ciência e tecnologia, para garantir que nosso estado tenha condição de exportar produtos manufaturados, deixando de depender apenas da produção de bens primários.