O segundo turno das eleições presidenciais não foi, digamos, pautado por grandes debates e diferenças políticas entre Dilma e Aécio. Mas é possível dizer que um tema veio ao debate e demonstrou, pelo menos na aparência, uma diferença entre os dois candidatos: a meritocracia. Na internet e nas redes sociais, esse foi um tema muito presente, especialmente nas discussões sobre o programa Bolsa Família, sobre as cotas raciais e sobre a gestão da educação.
No dia 23 de outubro, dois jornais curitibanos publicaram textos e reportagens com posições bastante opostas sobre este tema. O blog Caixa Zero, mantido pelo jornalista Rogério Galindo, fez um bom texto sobre o tema, trazendo dados de pesquisas de opinião sobre o assunto realizadas no Brasil e nos EUA. Na ocasião, Rogério mostrou como o mérito individual, embora importante, não é decisivo para uma melhoria de vida quando o cenário ao redor é negativo.
Já o jornal Bem Paraná, que fazia reportagens com todos os novos deputados eleitos para a Assembleia Legislativa (ALEP) e para a Câmara dos Deputados, trouxe uma entrevista com Maria Victória Borghetti Barros, que tomará posse como deputada estadual em 2015. Embora o assunto da reportagem não fosse a meritocracia, as respostas de Maria Victória impulsionam um debate sobre o tema.
A deputada, que é a mais jovem eleita no Paraná e é filha de Ricardo Barros (eleito deputado federal) e Cida Borghetti (eleita vice-governadora), nunca fez parte de nenhum movimento político-social, de associação empresarial, grupo de interesse ou algo que pudesse compor uma pauta para seu mandato. Ela é de um “segmento social” que sempre foi grande na política paranaense: os filhos de políticos que já são filhos de políticos.
Na sua entrevista, Vic Barros (como era conhecida antes da campanha eleitoral) falou de sua “experiência internacional”, visto que estudou na Suíça por 5 anos e já viajou por outros países fazendo trabalho voluntário. Sobre suas “novas ideias”, relatou que tem experiência na educação, visto que é dona de uma escola bilíngue em Maringá e faz parte do sindicato das escolas particulares.
As declarações de Maria Vitória dão a impressão de que a eleição dela, o fato dela ter morado na Suíça e outras situações de sua vida, são todas fruto de seu esforço pessoal e de seu pai. É a típica ideologia meritocrática, que faz parecer que os demais só não tiveram a mesma trajetória de Maria Vitória porque não quiseram ou se esforçaram para tal.
Os relatos da deputada eleita mostram que o poder público deve atuar incisivamente para diminuir essas desigualdades. Se ele não fizer isso, perde sua razão de existir.
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