Durante a campanha eleitoral, por várias vezes fui perguntando sobre o piso salarial dos professores e sobre o mínimo constitucional do orçamento que deve obrigatoriamente ir para a saúde. Em ambas as ocasiões, sempre respondi dizendo que as duas políticas devem ser entendidas como o mínimo, como um piso e nunca como o teto*.
E, também durante a campanha, vi outras situações onde algo mínimo, o piso, era prometido como se fosse algo novo, máximo, o teto: nos debates em sindicatos e nas TVs, candidatos a governador falaram em “cumprir a lei” e “ser menos pior do que Beto Richa”. Na sua campanha de rua, o deputado Osmar Serraglio tinha como proposta ser “ficha limpa”.
Essa reflexão sobre o piso e o teto na política nos remete ao que tem sido usado como argumento a favor dos governos petistas (ou “pós-tucanos”, como o de Fruet, em Curitiba): o dialogo. Em vários momentos, ao fazer críticas e questionamentos aos governos do PT, seus defensores sempre argumentam que, em que pese seus problemas, estes governos estariam sempre dispostos ao “diálogo”. Prova disso seriam os conselhos de participação social, a presença de interlocutores do movimento social na Secretaria-Geral da Presidência, entre outros argumentos.
Mas a recente crise na gestão cultural e o cancelamento da Conferência das Cidades em Curitiba e outros fatos passados (como os 100 dias de greve de técnico-administrativos das universidades federais em 2011 sem nenhuma mesa de negociação) mostram que nem sempre esse “diálogo” acontece. Mas o que temos visto também é que haver o diálogo não tem significado muita coisa.
Por muitas vezes, as reivindicações são recebidas por secretários, adjuntos, ministros, prefeitos, diretores e demais “ôtoridades” e tudo para por aí. O diálogo, que deveria ser o primeiro contato, a primeira etapa da resolução dos problemas levantados por aquele movimento social, acaba sendo um fim em si mesmo. A ação do governo não vai além de “ouvir as demandas”. É claro que isso é importante, mas é muito pouco. Mas do que ser ouvidos, os movimentos querem ver suas reivindicações atendidas.
Não podemos nos resignar a aceitar o diálogo como o fim da política. Queremos diálogo. Mas como o começo das ações e não como ponto máximo!
*Infelizmente, não é o que acontece no Paraná e em outros estados, onde a área de saúde recebe menos de 12% do orçamento estadual e o piso salarial dos professores não é cumprido.