Entre os dias 18 e 25 de setembro, acontece a Semana Nacional de Trânsito, que busca sensibilizar a população acerca da necessidade de diminuir a violência e as mortes que acontecem no trânsito. Nesses próximos dias, as ações dos órgãos Sistema Nacional de Trânsito estarão focadas em divulgar os dados acerca dos acidentes e mortes nas ruas e estradas, além de focar o debate nos pedestres, que são o tema da campanha neste ano.
Infelizmente, o debate sobre o trânsito e suas consequências ainda é muito individualizado: fala-se muito da imprudência e da necessária “direção defensiva”, sem fazer o debate sobre os aspectos estruturais do problema.
Na perspectiva estrutural, penso que alguns temas são fundamentais:
1) Melhoria nas estradas: a maior parte das estradas brasileiras é de pista simples. Nestas vias, para haver uma ultrapassagem, é preciso “invadir” a pista contrária, o que sempre é perigoso. Para diminuir os acidentes, é preciso duplicar as estradas, evitando os acidentes em ultrapassagem. Aonde não for possível, deve-se ao menos garantir a “terceira faixa”, que permite ultrapassagens seguras de tempos em tempos;
2) Investimento em transporte ferroviário: a ênfase em transporte rodoviário, com grandes caminhões transportando cargas muito pesadas, é causador de acidentes. Os caminhões lentos, em rodovias de pista simples, acabam incentivando ultrapassagens perigosas que acabam em acidentes. Para evitar isso, é fundamental voltar a investir em ferrovias para o transporte de grandes cargas. Isso só pode ser feito por um governo que não tenha recebido dinheiro do lobby da indústria automobilística durante a campanha eleitoral;
3) Transporte público: a precaridade dos ônibus, especialmente nas grandes cidades, somado aos incentivos fiscais (como o “IPI zero), fez com que grandes parcelas da população brasileira buscasse o transporte individual como solução. Essa situação gerou um trânsito caótico (e mais perigoso) nas grandes e médias cidades brasileiras. Para reverter isso, é fundamental investir em transporte público, com mais qualidade e menores tarifas. Desta forma os automóveis poderão voltar a ser chamados de “carros de passeio”;
4) Ciclomobilidade: nunca ouvi falar em mortes num acidente entre duas bicicletas. O investimento em ciclomobilidade certamente pode ajudar num trânsito mais seguro e menos violento.
Tudo indica que dificilmente os debates da Semana Nacional do Trânsito serão acerca das questões levantadas acima. Mais uma vez, o foco será individual, culpabilizando a cada um pelos acidentes. É necessário que a discussão acerca do trânsito avance para além das medidas individuais, pois só desta forma poderemos ter, de fato, uma redução do número de acidentes e mortes.