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vitorialula200226 de outubro de 2002, 18h, tempo chuvoso. No antigo Dom Trajano, que naquele momento havia servido para o Comitê de Campanha do deputado Dr. Rosinha, participo de reunião para preparar a fiscalização das urnas no dia seguinte. O companheiro mais experiente nos avisou de algo que lembro como se fosse hoje: “amanhã é um dia decisivo, temos que fiscalizar com muita atenção, é nossa chance de mudar o Brasil”.

No dia seguinte, fui votar e fiscalizar as urnas no Colégio Julia Wanderley conforme a importância da missão. Ao fim da votação, já saí comemorando, pois, ao verificar 4 urnas, tinha visto vitória de Lula em 2 delas. Fomos para a Marechal Deodoro e, mesmo com toda a dificuldade do mundo em arranjar uma cerveja, comemoramos bastante.

E o que deveria ser o início de uma trajetória, foi o ponto alto. De lá pra cá, muitas decepções. Já nos dias seguintes daquela vitória, veio a tal da “equipe de transição”. Na sequência, a escolha de Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank of Boston e então deputado federal eleito pelo PSDB-GO, para presidente do Banco Central. Pra fechar o primeiro ano de governo, a Reforma da Previdência, que, mais do que economizar dinheiro, serviu para mostrar para os “organismos internacionais” que Lula e o PT estavam dispostos a enfrentar sua “base social histórica”.

Entendo que o “grande” momento desse primeiro ano de governo foi a Reforma da Previdência. Com uma greve de quase todos os trabalhadores do serviço público federal e com uma marcha de mais de 80.000 pessoas em Brasília, a votação aconteceu de madrugada, para fugir dos protestos. Entre os petistas que votaram a favor, a justificativa era de que não poderíamos “enfraquecer o NOSSO governo”. E, para os que votaram de acordo com o programa histórico do PT e contrários ao governo, a punição foi dura: expulsão!

A partir daí, quase tudo era permitido e aceito, pois falar contra era “enfraquecer o NOSSO governo”, era ajudar a “volta dos tucanos”. Mas é fato que, a partir daí, o governo retomou seu prestígio e tomou medidas que ganharam grande apoio popular. A situação para aqueles que ousavam questionar os métodos governistas ficou ruim, os espaços foram sendo fechados e por longos anos a aparência foi de que não havia vida por fora do PT.

As medidas tomadas pelo governo com caráter emergencial e provisório, passaram a ser defendidas como se fossem os objetivos estratégicos da esquerda. Entre essas medidas, destaco o PROUNI e o programa Farmácia Popular. É claro que é possível argumentar que não tínhamos condições de expandir as universidades públicas imediatamente e que, por isso, precisávamos comprar vagas em faculdades particulares. O mesmo vale para a política de medicamentos. Mas, como vimos, os programas provisórios passaram a ser permanentes, virando política de Estado.

Entre 2003 e 2006, a sensação que ficou foi a de um governo que abdicou de fazer os enfrentamentos e de buscar apoio da população que o havia eleito em 27 de outubro de 2002. Com a argumentação de que era preciso dialogar com um Congresso Nacional formado por partidos que não estavam na aliança de Lula, muitas concessões foram feitas. Para justificar esse diálogo, muitas vezes o então presidente Lula argumentou que a disputa esquerda x direita era coisa do passado e que era preciso “unir o Brasil” pelo desenvolvimento.

Mas essa movimentação liderada por Lula apenas serviu para fazer com que a maior referência partidária da classe trabalhadora na América Latina se tornasse um partido com mais proximidades do que diferenças em relação aos partidos tradicionais, burgueses. Essa é a nossa grande derrota dos últimos 20 anos.

As primeiras respostas desses movimentos vieram em 2006: naquela eleição, a bancada de deputados federais do PT diminuiu e muitos parlamentares de partidos de direita foram eleitos dizendo-se autores de “obras” e medidas do governo Lula. Não era preciso ser do PT ou da esquerda para defender as medidas governistas. Enquanto fortalecia-se o “lulismo”, enfraquecia-se o PT. A equação “governo progressista” x “Congresso Nacional conservador” ficava ainda mais desequilibrada.

Entre 2007 e 2010, o governo chegou em seu auge, fruto de um crescimento econômico baseado no crédito fácil e numa cidadania fruto da inserção no mercado. Fruto do grande aparato do governo federal e da dependência da maior parte dos municípios das políticas federais, a maior parte dos prefeitos passa a apoiar Lula e a pressionar seus partidos para que também apoiem. É neste momento que PSDB e DEM minguam, perdendo deputados e apoios. Mas os neo-lulistas não são petistas e por isso acabaram por fortalecer novas legendas de aluguel, pulverizando as bancadas do Congresso Nacional.

Fruto dessa política de que “todos são base do governo”, o Congresso eleito em 2010 é mais conservador do que os demais, com novo enfraquecimento da bancada do PT (ainda que pequeno) e com mais deputados das bancadas conservadoras (especialmente evangélica e ruralista).

Ao invés de servir para derrotar a direita, que havia sido enfraquecida com as eleições de 2002, os governos do PT reabilitaram um grande setor deste campo, com a integração de muitos quadros em órgãos do governo. Nomes como Paulo Souto, Kátia Abreu, Edison Lobão e outros saíram do ostracismo para fazerem parte do “governo da mudança”.

Agora, em 2014, estamos diante da eleição do Congresso Nacional mais conservador desde 1964. Um Congresso fruto dos combates que não foram feitos, da despolitização da sociedade brasileira, da ideia de que todos podiam se unir pelo Brasil. Estamos diante de um segundo turno em que pela primeira vez o candidato do PSDB sai na frente das pesquisas e é apoiado pela maior parte dos candidatos que disputaram o primeiro turno.

Por isso é preciso deixar claro: o retrocesso já aconteceu! No caso da eleição de um novo governo Dilma, o cenário mais provável é que seu governo busque “dialogar” com esse Congresso, fazendo ainda mais concessões. As bancadas ruralistas e evangélica terão ainda mais peso para seus lobbies e para o ataque aos direitos LGBT, dos indígenas, das mulheres, entre outros.

Mas… e se Aécio for eleito? Neste caso, a tendência é que grande parte do PT volte a se comportar como oposição, como fizeram até 2002. Digo que é “parte do PT” porque há grandes setores da bancada eleita agora em outubro que já se comporta como parlamentares de direita, tradicionais. É o caso, por exemplo, de Zeca Dirceu, que fez campanha no Paraná demonstrando as “obras” que conseguiu com seu “trabalho” de deputado.

E esse cenário, de eleição de Aécio, de grande parte do PT na oposição, não é um cenário positivo para os enfrentamentos que precisamos fazer. O combate ao conservadorismo passa hoje por aqueles setores que se mantiveram nestes anos na oposição de esquerda e por alguns setores do PT, que ainda se mantém militantes e combativos. Não é mais possível fazer este enfrentamento a partir da direção do PT, que, sempre que pode, buscou compor com estes setores.

Certamente um segundo governo Dilma em aliança mais conservadora servirá para uma reflexão mais definitiva de grandes setores do PT. E isso é urgente e necessário, para que se ampliem as forças de oposição de esquerda, as únicas capazes de combater o avanço conservador no Brasil. Um governo de Aécio poderá frear este processo, fazendo com que o PT possa surgir de novo como força oposicionista, atrasando o fortalecimento de um campo que possa combater o conservadorismo de maneira firme e definitiva.

Nesta hipótese, o PSOL será ainda mais importante. Quando fundamos o partido em 2004, sabíamos que atravessaríamos um longo deserto, de recomposição de forças socialistas no Brasil. O escândalo do mensalão e a saída de 4 deputados federais do PT em 2005 deu a sensação de que nosso crescimento ia ser mais rápido. Mas não foi… mesmo assim, o PSOL cumpriu um importante papel, de recompor uma ideia de esquerda autêntica e de aglutinar novos setores, especialmente jovens que não viveram o tempo do PT como uma referência combativa.

É por isso que, nos últimos dias, tenho refletido seriamente sobre quem-sabe-pode-ser votar em Dilma neste segundo turno. Como disse antes, a derrota já foi sofrida. Agora é momento de pensar sobre o que é melhor para reorganizar e fortalecer um campo político que tenha condições efetivas de enfrentar o ascenso conservador.

Mas o que está em jogo não é só uma reorganização partidária e dos movimentos sociais. Muitos argumentam sobre os tais programas sociais dos governos do PT e sobre o fortalecimento do serviço público.

Entendo que a maior parte das políticas sociais petistas não serão cortadas pelo PSDB. Ao contrário, o PSDB entendeu que essas políticas servem também ao mercado, além de te darem grande apoio popular. Muitos tucanos devem refletir: “como não pensamos nisso antes?”. É por isso que muitas prefeituras e governos estaduais tucanos implementaram, ao longo desses anos, muitas políticas sociais parecidas com as do governo federal. Há, também, outro ponto fundamental: as políticas sociais petistas usufruem de pedaços minúsculos do orçamento federal.

Sobre o “fortalecimento do serviço público”, entendo que ele foi muito mais fruto de uma necessidade imediata do que de uma política estratégica. Quando assumiu, em 2003, o Estado brasileiro estava desmontado e não apenas do ponto de vista das políticas públicas. Para funcionar para as áreas sociais e para funcionar para o mercado, era necessário que se abrissem concursos e que se contratassem funcionários públicos. Neste período, fortaleceram-se no governo as carreiras mais elitizadas e outras tantas áreas continuaram a ser terceirizadas. E não é verdade que a negociação é uma marca dos governos de Lula e Dilma: entre 2011 e 2012, os trabalhadores das universidades fizeram mais de 180 dias de greve (isso mesmo, 6 meses!) para conquistarem 3 aumentos (em 2013, 2014 e 2015), que mal serão suficientes para cobrir a inflação do período.

O “fortalecimento do serviço público” foi bastante seletivo no último período. Para quem, como eu, trabalha num Hospital Universitário, a ameaça de terceirização da gestão e os cortes de verbas foram permanentes, chegando ao cúmulo de trabalharmos com faltas de materiais básicos, como álcool para a limpeza das mãos.

A experiência dos governos estaduais tucanos pós-petistas mostra que exagera-se nas tais “conquistas” que podem ser “perdidas”. A partir de agora, é preciso unir forças para enfrentar o conservadorismo que vai se instalar em Brasília a partir de 2015, construindo uma alternativa partidária que dê aglutinar todos os setores que ainda se mantém combativos e militantes.


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